domingo, 22 de outubro de 2017

Foucault: o pensamento da liberdade


Da série: quase um resumo. Todo o pensamento de Foucault visa mostrar o quê dizem os médicos, cientistas, filósofos são invenções teóricas, chamadas por ele de discursos. Os discursos terminam por dominar e perseguir os semelhantes os escravizando. Por isso ele começou com A História da Loucura e depois As Palavras e as Coisas. Mostrou que as palavras distorcem as coisas porque se organizam a partir de epistemes, ou seja, paradigmas, como também detectou Thomas Kuhn nas ciências exatas. As epistemes são normas a priori para se conhecer. E essas normas são diferentes em cada época e, às vezes, não percebidas imediatamente pelos quem as exerce. E outra coisa importante é que elas não têm nem continuidade nem progresso. Existem apenas rupturas e mutações em cada episteme em cada época. Viseiras e equívocos, portanto, em cada época e local. O constante é a dominação do homem pelo homem por discursos. Ou seja, o muito falar sobre a vida dos outros se dizendo cientista.  Quer dizer um a priori dando o poder ao dono da verdade. Neste caso são os cientistas, principalmente, das ciências humanas. Portanto quando as coisas entram em um discurso a finalidade é exercer o poder sobre elas. E o mesmo ocorre quando as pessoas são transformadas em coisas para, entrando em um discurso, serem dominadas e excluídas. E Foucault foi, de curso em curso, livros e livros, mostrar como, principalmente as ciências humanas surgiram e criaram discursos, em um saber-poder no decorrer da história. A comparação histórica dos equívocos dos discursos é o que denunciam as tolices que disseram. A estratégia política é quando se coloca um comportamento humano como objeto de pesquisa visa criar uma “verdade” por outro para dominá-lo. E detonando sua subjetividade e colocando nela a criada pelos médicos e excluí-lo no hospício ou em uma cadeia e, depois de morto, no inferno. E Foucault deu a solução com o conceito de o cuidado de si que quer dizer se autogerir. E assim veio buscar inicialmente essa liberdade nos estóicos e depois os cínicos. Eles foram importantes porque criavam suas verdades e recusavam a dos que queriam dominá-los pelos discursos, se imaginando serem os supostos donos da verdade que hoje são os que agem pelas ciências sociais e as que se dizem humanas etc.

Esse texto está também em:   https://decifrandofoucault.blogspot.com.br/




quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A vontade de poder: ambição, desonestidade e exploração



Uma das pesquisas efetuadas pelos ateneus libertários é o que leva um individuo a ter e exercer a vontade de poder. Ou seja, porque um individuo quer exercer o poder sobre os outros. A síndrome do líder, do dominador dos próximos, do que nasceu para governar os outros e faz tudo que pode para conseguir ter e exercer o poder sobre alguns e, se possível, sobre todos. É a vontade de mandar. O objeto é portanto porque uma pessoa tem a vontade de governar os outros. Essa vontade de governar é que é o objeto de pesquisa multidisciplinar.

Quando se diz aqui que é uma questão é política é a análise da vontade de poder.

Pequena introdução para iniciar a pesquisa da vontade de poder.

1 – A vontade de poder se inicia com um discurso sobre o outros. O que se observa que a vontade de poder inicia sempre com um discurso de desqualificação de qualquer peculiaridade do outro.

2 -  Esse discurso cria um duplo. O que é certo e porque tem o poder e o errado que não tem o poder. O certo e o bom precisa a priori existir para exercer o poder. É preciso em cada época estabelecer que ele tem a certeza, a verdade e o outro tem ou nada e por isso o erro. Ele é ativo e obriga ao outro ser passivo sob a estratégia do discurso ou quem deu o primeiro grito de sujeição do outro.  O dominador tem a verdade religiosa, cientifica, moral, legítima (quando usa o direito para dominar o outro) que são articuladas pelos discursos e  isso  sustenta o dominador  que está certo e os errados que são dominados. Para isto é preciso estabelecer e implantar que é preciso situar o que vai ser dominado em um duplo: o inferior ou doente, ridículo, ameaçador e todo tipo de desqualificação comparado com o que é descrito como o superior, branco, europeu, sadio, respeitado, autoelogiado por ele e pelos outros. Sem essa construção política não é possível se exercer a dominação a não ser pela força física que muitas vezes ocorreu na história assim, que ganhou a guerra é o superior e o certo, mas é uma estratégia muito cara e nem sempre com muita eficiência e garantia de ser o vitorioso e não o perdedor. É mais eficiente o discurso. Por isso Foucault diagnosticou o que aqui estou descrevendo resumindo uma parte de suas conclusões.

3 – As diversidades deformadas pelo discurso. O que temos observado é que a natureza é, em todas as suas manifestações, diversa. A diversidade é uma das suas principais características. Por isso temos muitas variedades e todas equivalentes porque são principalmente naturais entre tudo que existe. O que quer dizer que, nos seres humanos, seja física ou comportamental.   A análise política, que é a análise do poder,  é detectar as relações de dominação entre seres humanos e também quando eles exercem relações de poder muitas vezes predatório  com o planeta,  a  natureza e com os animais. Então temos uma questão epistemológica fundamental: uma diversidade natural na natureza e os discursos transformando objetos de pesquisas, principalmente com o que se chamou de ciências humanas, os seres humanos cuja única razão é exercer a dominação encenando o duplo: o pesquisador, o doutor, o dono da verdade sobre o outro e por isso o domina.  Então temos a diversidade natural que é a maneira de ser da natureza e o discursivo quando algumas dessas diversidades naturais e equivalentes em determinado momento da história por razões políticas deixam de ser natural e sem dominação portanto, isto é  pré-discursivas para discursivas que, nessa alteração epistemológica, passam a ser objetos de pesquisas quer em discursos religiosos com o conceito de pecados e outros termos em variados discursos religiosos e os das chamadas de ciências humanas com psicologia etc. A aberração portanto não é a natureza ou o natural mas é epistêmica ou seja como se usa uma  razão cindida a partir do que Foucault chamou de momento cartesiando na história na época clássica em Foucault e também com o que Hokheimer chamou de razão instrumental voltada para a dominação de tudo e de todos cegamente como o Dr. Frankenstein e muitos mais.







sexta-feira, 26 de maio de 2017

O poder da opinião


Ricardo Líper


Sou radicalmente contra qualquer tipo de terrorismo e violência. Sou radicalmente contra a qualquer tipo de assassinatos. Só acredito na formação de opiniões que mudam mentalidades no consenso e é internacional. Só acredito que a crítica dos comportamentos autoritários termina por destruir os autoritários. A história tem mostrado isto sempre não só com Hitler, Mussolini e Stalin. No meu entender usar em uma guerra, disfarçada ou não, responder com terrorismo só provoca uma rejeição da opinião pública mundial. O mais importante é mostrar o que tem, em cada uma das partes, quem está sendo injusto, cruel e dominador. A verdadeira luta se trava nas opiniões. A desmoralização será eterna com a descrença absoluta de todos. Assim caíram todos os poderosos. Não acredito que manifestações populares que quebram o que encontram pela frente são eficientes. Pode ser até que essas pessoas agem assim visando desacreditar uma manifestação pacífica. E mudando o foco e o olhar dela por uma causa justa, com uma ação de destruição, por onde passam. Nunca se iludam que tudo que é sólido desmancha no ar e a qualquer momento. Um pequeno e poucos folhetos podem destruir uma das mais ferozes ditaduras. Depende apenas que ele tenha uma argumentação suficientemente forte porque a maioria, que não é ingênua, compreenderá. Assim foi em todos os grandes momentos de enfrentamentos de injustiças de vários tipos em todos os povos e na história. Observem. No, fundo no fundo, o quê tem mudado o mundo tem a força e a eficiência da opinião. E é isso o que sempre fiz. A crítica, evidenciando as contradições e dominações de um discurso, é muito mais eficiente do que as ogivas nucleares.
Assim as mulheres ficaram livres e iguais como os homens; o racismo, cada vez mais, perde o poder; o amor ficou livre desde o desquite até o divórcio e casamentos para todos sejam quem sejam; em países civilizados a diminuição de rendas entre muitos ricos e miseráveis que mostram a civilização de um país, paz e felicidade para todos. O fim da palmatória nas escolas. Não se aceitar o bullying. E são muitas coisas libertárias que estamos se vivenciando agora. Sem utopia e sendo a realidade. E muitas outras coisas libertárias, semelhantes as essas, estão acontecendo. E o resto é o silêncio. E então repito: a crítica, evidenciando as contradições e dominações de um discurso, é muito mais eficiente do que as ogivas nucleares. Cabem a todos nós. Paz sem roubos ou violências mas raciocinando e a jogar no ar que sempre o que o ser humano tem em reaciocinar e os anarquistas apenas os faz exercer seus raciocínios para todos. Uma das principais coisas do ser humano é pensar. Pensando ele criou as coisas mais belas e boas para todos nós. Desde vencer com a medicina, quando reais e libertária, e a arte de ser nos outros amigos e irmãos verdadeiros de todos porque todos nós somos essencialmentes iguais. Apenas diverenças segundárias e normais. Só quando são podem ter onde ter uma casa para descançar e um trabalho para ter condição de sobreviver e então ele será sempre muito manso. E portanto cabe aos libertários que todos nós ajudem na ação direta para todos nossos terem como se alimentar direito e onde dormir sem medo nem de ser feliz com sua casa, seu trabalho que são as primeiras de condições para felicidade. O que os libertários (anarquistas) são o que querem para todos sem agressões de ninguém e só usar seu cerebro que a natureza nos deu. E é isso que faço e apenas isso. Aprender a pensar que se inicia com a respeitar os outros e juntos criarem a felicidade para todos. É isso que se chama os libertários que ficam mais felizes com eles mesmos e os semelhantes.


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Heterotopias Libertárias

Uma sugestão de ação política e econômica do anarquismo realizável

O anarquismo essencialista não é uma utopia nem um ideal. Ou seja, um bando de crentes acreditando ou se sentindo bem quando pensa em um futuro utópico anarquista imaginado por eles. Sonhando acordado com uma utopia. É gostoso. Mas sugiro que podemos vivenciar isto e viver no aqui e agora sem está somente nas nuvens.

Uma das práticas anarquistas

1 – Tudo começa no ateneu, que é um centro de cultura social e pratica política, que além de pesquisar sobre o poder e as relações de poder executa uma série de ações libertárias. Ele é a organização anarquista que substitui qualquer outra organização e partidos.

2 -  Ele visa duas coisas essenciais do anarquismo: ação direta (agir sem intermediários como os que se autodeterminam políticos) e apoio mútuo (associação de anarquistas para sobreviverem melhor nas sociedades em que vivem).

3 – Uma das suas ações, além das lutas pela libertação em todas as instâncias da dominação do homem pelo homem, é associar anarquistas para viverem melhor no aqui e agora. Enfrentando juntos se associando para sobreviverem às adversidades, que é viver em uma sociedade autoritária e exploradora. Quer dizer trabalharem e ganharem dinheiro juntos para viverem melhor. Entretanto, para isto é necessário um treinamento muito sistemático para que os seus membros se libertem de comportamentos autoritários, egoístas e desonestos. Sem esse treinamento não é possível uma associação econômica anarquista, ou seja, um dos aspectos do apoio mútuo e ação direta. Ou seja, uma das essências resumida do anarquismo: apoio mútuo e ação direta.

4 – Criar espaços anarquistas, ou seja, heterotopias, nos quais, horizontalmente portanto, quer dizer: fazer existirem de acordo com as leis de cada país, espaços anarquistas de organização de convivência anarquistas. É o anarquismo dentro de sociedades não anarquistas. Formar ilhas libertárias dentro dessas sociedades e se viver nelas. É o anarquismo agora. Proporcionar aos seus membros viver, o mais possível,  nesses espaços anarquistas.

5 – Disseminar essas práticas libertárias de construção de heterotopias no aqui e agora. Heterotopia significa aqui reunião de anarquistas para criar espaços libertários para viverem melhor no aqui e agora. Fazendas, bares, clubes, fábricas, lojas, bairros etc. Uma rede de vida anarquista em seus espaços adquiridos dentro das leis e com o trabalho honesto de anarquistas associados, ou seja, associação econômica anarquista.  

E, desde que não seja uma bíblia, leiam as descrições de Foucault sobre as heterotopias. 


domingo, 19 de fevereiro de 2017

Análise do poder no anarquismo e em Foucault

Para o anarquismo essencialista e ateneuista a análise que Foucault fez do poder é de suma importância para somá-la e assim acrescentá-la às reflexões anarquistas. Principalmente:

1 - O seu empirismo de analisar a história sem a metafísica. Sem utopias nem profecias

2 - De focar, como os anarquistas fizeram, suas pesquisas no poder e sua relação e efeitos sobre o sujeito sujeitado.

3 - A reedição com o cuidado de si que fez sugerir a transformação do sujeito a partir dos estóicos, epicuristas e outros para, mudando a si mesmo, enfrentar a sujeição e assim mudar o mundo sem tomar o poder.

4 - A crítica ao economismo de Marx e focar no poder e nas verdades criadas pelo poder na história para sujeitar o sujeito e não a economia como a causa única da sujeição.


Aqui não me interessa ficar, o que é muito comum entre acadêmicos, em especulações intermináveis. O que me fez somar, digo somar, o pensamento de Foucault com o anarquismo é que ambos analisaram como objeto de pesquisa o poder e não como resultado da economia e metafísicas, hegelianismo etc. Não me importa se o anarquismo e Foucault disseram ou não disseram isto ou aquilo. O que importa é que com suas análises de como o poder é exercido ambos deram muitas contribuições para, no aqui a agora, estarmos mudando o mundo com a libertação de milhões de pessoas. O que incluiu muitas mulheres não apanharem mais dos homens, os negros e outras cores da pele e formas das pálpebras terem leis que tornaram crime o racismo, que as diversidades sexuais e de gênero e muitas outras liberdades são garantidas por leis etc. E os países, que seguiram o equívoco de atrelar e analisar o poder como uma consequência da economia, voltaram quase todos, depois de violentas ditaduras executada por sua nova classe social de privilegiados formada pelos seus ditadores, ao capitalismo. Cuba e China estão sendo os mais recentes. Já o anarquismo e Foucault estão, com seus postulados, contribuindo e muito, pela libertação de milhões de pessoas em todo mundo. São lutas sem partido, específicas contra relações de poder, pacificamente muitas vezes, que levam a reboque os políticos e a maioria das pessoas e finalmente mudando o mundo sem tomar o poder. Porque o poder não existe o que existe são as microfísicas do poder. Mudando o bolo se muda a glace e não o contrário. Mudar só a glace do bolo não se mudou o bolo. O que existe são relações de poder e só as mudando para as relações humanas sem exercício de poder em toda a sociedade tem sido o que está, de fato, mudando o mundo a cada minuto no aqui e agora sem utopias nem profecias.
Mas se quiserem leiam o livro de Salvo Vaccaro O Anarquismo e Foucault.




Anarqueologia de Foucault e outros textos importantes

Em 1980 Foucault ministrou um curso Do Governo dos Vivos no Collège de France. Neste curso ele se refere ao que chamou de anarqueologia. É um livro importante e deve ser lido com atenção pelos anarcofoucoultianos.

Nildo Avelino assim comentou:


1- O anti-Édipo: uma Introdução a uma vida não fascista. (Prefácio à edição americana de O anti-Édipo. Capitalismo e esquizofrenia, de Gilles Deleuze e Félix Guattari. Foi retomado em Dits et êcrits, de Foucault (Gallimard). O título é da redação do Magazine Litteraire, onde foi publicado pela primeira vez em francês. Trad. Fernando José Fagundes Ribeiro).
Prefácio (Anti-Édipo) em Ditos e Escritos VI página 103 em 2011 pela editora Forence Universitária.
2 - O Sujeito e o Poder na página 118 do Ditos e Escritos IX em 2014 pela editora Forence Universitária.
3 - Em Defesa da Sociedade. A aula de 14 de janeiro de 1976. Publicado no Brasil pela Editora Martins Fontes.
4 - As Malhas do Poder na página 169 dos Ditos e Escritos n. VIII em 2012 pela editora Forence Universitária.
5 – Em A Hermenêutica do Sujeito. A aula de 20 de janeiro de 1982. Publicado no Brasil pela Editora Martins Fontes. Seguida da Carta n. 50 de Cartas a Lucílio de Sêneca. Publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Aliás, se deve ler e praticar, com sensatez, todas as Cartas a Lucílio de Sêneca e outros estóicos, epicuristas e os cínicos.


Resumo do Anarquismo Essencialista Vitorioso

O anarquismo é contra a dominação do homem pelo homem em todas as relações humanas. É o oposto de qualquer tipo de autoritarismo.
O anarquismo vitorioso está tornando viável, no aqui a agora, esse ponto de vista.
Para isso ele propõe:
1 – O anarquismo é a teoria e prática da ação direta sem partidos nem intermediários, autogestão e apoio mútuo para, sem utopia nem profecia, mudar pacificamente o mundo, no aqui e agora, sem tomar o poder. Visa, com  a disseminação de construção de relações humanas sem exercício de poder, mudar o mundo consensualmente, por todos e para todos. Suas ações são algumas vezes específicas como a libertação das mulheres, do racismo, de ditaduras sexuais, de diferenças de rendas e salários e estão acontecendo internacionalmente. Sempre sem partidos nem autoritarismo com movimentos sociais, culturais e políticos que têm sido vitoriosos mudando o mundo sem tomar o poder e assim livrando da exploração, humilhação e dominação milhões de pessoas.

2 - Mudar o mundo sem tomar o poder é porque o poder não existe. O que se presencia como o poder é o resultado de inúmeras pequenas e cotidianas relações de poder, que atuam em rede, acumulando-se e formando o poder administrativo geral, que é o Estado e o Governo, que se constituem e se apoiam nelas. O que se vê na forma de Estado e governo, é resultado de micros relações de poder que os formam como administradores gerais delas.
Agora podemos entender melhor porque os anarquistas sempre diziam que só era possível uma sociedade realmente igualitária e libertária sem o Estado e o governo. Eles compreenderam que só seria possível uma vitória libertária se não existisse o Estado e o governo. Atualmente muitos países têm conseguido transformar o Estado e o governo de um poder absoluto por democracias que cada vez mais nelas o Estado e o poder serem administradores da liberdade de todos.
3 – A grande percepção do anarquismo e de Foucault foi focar suas análises na dominação do homem pelo homem no poder e como ele se exerce e não na economia política de Adam Smith e David Ricardo que levou Marx e seus seguidores, a ficarem aprisionados nesse aquário epistemológico de imaginar que o poder é um resultado, ou seja, um epifenômeno da economia. Todas as derrotas de muitas revoluções que não atingiram o seu objetivo de libertação e seus lideres se transformaram em uma nova elite ditatorial se iniciaram com esse equívoco epistemológico.
4 - Por isso tomar o poder nunca se consegue mudar a dominação porque teria de modificar todas as relações de poder que o formou. Não se consegue fazer isso de cima para baixo. Só é possível, como estamos vendo, de baixo para cima. Porque de cima para baixo terá de ser uma ditadura, disfarçada ou não, por isso mesmo ineficiente, que gera sempre uma nova elite dominante, corrupta e enriquecida em detrimento de todos. Daí a necessidade de cada vez mais dominação, corrupção, golpes de Estado e péssimas qualidades de vida para todos.
Quem tomar o poder tem de ser ditatorial gerando uma casta privilegiada, sempre paranoica e corrupta, porque dona do poder conquistado a força tem medo de perdê-lo e serem executados como ocorreu com quase todos. Nunca se toma o poder. Não se consegue fazer isso de cima para baixo. Só é possível, como estamos vendo, de baixo para cima. Porque de cima para baixo terá de ser uma ditadura, disfarçada ou não, por isso mesmo ineficiente, que gera sempre uma nova elite dominante, corrupta e enriquecida em detrimento de todos. Daí a necessidade de cada vez mais dominação, corrupção, golpes de Estado e péssimas qualidades de vida para todos.
A não percepção disso é que cria a ilusão de tomá-lo e o não exercê-lo. Quando, na realidade ele, ao passar por você em rede, no que Foucault chamou de as malhas do poder, o habita e o dirige e não o contrário. O poder se exerce em rede na qual você é apenas uma transmissão dele seja em que parte da rede você estiver.
Não se toma o poder ele é que lhe arrebata e o possui.
A solução revolucionária é quando você deixa de ser o condutor que o faz transitar em você e cria alternativas de relações humanas sem exercício de poder. E é isso que é ser anarquista e tem mudado o mundo no aqui e agora sem tomar o poder.
Por isso a transformação do poder em uma democracia libertária plena deve ser feita pacificamente por consenso que é a compreensão de todos ou da maioria que se pode, com libertações específicas de dominados mudar o mundo sem tomar o poder. O conjunto dessas vitórias nessas lutas, sem amos nem dominados, estão transformando o que chamamos hoje de Estado e de governo, em unicamente administradores das várias liberdades de todos.
É assim que o anarquismo tem se tornado, a cada momento, uma realidade.
Já estamos vendo se esboçar em alguns países, o que poderemos chamar de pré-anarquistas, uma democracia libertária plena.
5 – Por isso uma grande parte do anarquismo é mostrar a ineficiência das relações de poder em todas as suas organizações e manifestações ao longo da história. Evidenciar, com argumentos, devidamente pesquisados e fundamentados, a estupidez, desinformação e ingenuidade de muitos diante do autoritarismo. Assim se tem conseguido, pacificamente, com o consenso ou a opinião da maioria, mudar o que é injusto resultado da dominação do homem pelo homem.
O anarquismo tem vencido formando opiniões libertárias e mudando mentalidades  em todos os tipos de relações humanas. Sua prática é mudar a mentalidade autoritária das pessoas em libertária. É um formador de opiniões tanto nos diálogos como nos seus exemplos com suas práticas de transformar relações de poder em relações sem o exercício de poder.
O anarquismo vitorioso, com vários nomes e nem sempre se dizendo anarquista, tem mudado o mundo. Está conseguindo mudar: escolas, que se tornam gradativamente mais libertária; relações entre homens e mulheres sem o exercício de poder; a liberdade de expressão com a eliminação dos censores e das censuras; o fim oficial do racismo; a defesa social e jurídica do amor livre para todos e, em alguns países, a gradativa eliminação de diferenças de rendas e salários. Enfim a construção da liberdade e igualdade para todos em todas suas condutas e maneiras de ser e é isto que é anarquismo. O anarquista visa mudar micros relações de poder em relações sem o exercício de poder para transformar o poder, sem o tomar, fazer surgir uma democracia libertária plena.
6 – O anarquista vitorioso aplica nele mesmo o que Foucault chamou de a estética da existência com o cuidado de si, ou seja, a formação de sua subjetividade inspirada na cultura grega antiga. Ele desenvolve sua ética a partir do respeito a liberdade de si e dos outros. E a partir daí com uma série de exercícios de autocontrole formar sua subjetividade libertária, cujo principio é: não ser dominado nem por si nem pelos outros. Por isso ele luta, na sua preparação revolucionária pacífica, eficiente e libertária, não ser o escravo das coisas, dos outros e, principalmente, de si mesmo.
Os anarquistas sempre pensaram assim. Confirmem com a leitura das biografias de todos eles. Daí a importância para muitos anarquistas do pensamento de Foucault em todos os seus livros e principalmente A Hermenêutica do Sujeito; o pensamento dos anarquistas Emile Armand, Han Hyner em todos os seus escritos; de Paul Veyne, Pierre Clastres, Pierre Hadot em todas as suas obras. O anarquista vitorioso não ver nem faz nenhuma diferença entre o anarquismo individualista ou como estilo de vida e os que lutam em grupos pela transformação do que é ser injusto e autoritário. Somar para ele é mais importante do que dividir. Cada um pode ser anarquista como quiser ser e todos somam. Aliás, todos que querem libertar-te e seus semelhantes da dominação e suas consequências como a miséria é anarquista. Não importa o nome nem suas práticas desde que sejam libertárias, isto é, sem dominadores, sem profissionais do poder, pacificas por serem mais eficientes. Os anarquistas somam pessoas livres e não submissas. Somam elas e multiplicam e não diminuam ou dividem.
7 - O anarquismo denuncia o dominador que é a causa de todas as misérias sociais, econômicas e políticas. Seu foco de análise é o poder ou seja a relação do dominador com o dominado. E sua prática é como sair dessa relação de poder que criam macros relações de dominação, ou seja, ditaduras disfarçadas ou não.
A prática anarquista para conseguir eliminar dominadores, fora e dentro de si, cria relações humanas sem o exercício do poder em todas as instâncias. Funda organizações sem exercício de poder e heteropias anarquistas no aqui e agora.
Com esses dois instrumentos políticos, a critica ao autoritarismo disseminado em você e na sociedade constrói relações humanas sem o exercício de poder, o anarquista vitorioso está mudando e eliminando o fascismo de todos os tipos da face da terra.
Para eliminar a possibilidade de surgirem novos dominadores se dizendo revolucionários os anarquistas não criam partidos nem organizações semelhantes e essa tática eles chamam de ação direta. Quer dizer não serem massas de manobras dos profissionais do poder.
Atualmente o número de pessoas praticando o anarquismo, sem ter lido seus autores e sem dizer o nome, é muito grande. Perceberam, diante de tantos fracassos, resolver agirem anarquicamente e têm conseguido mudar o mundo sem tomar o poder. E, assim sendo, o anarquismo está sendo vitorioso.
Para maiores detalhes leiam as reflexões de Uri Gordon Anarquia Viva Política Antiautoritária Da Pratica para a Teoria.
Lembrem-se sempre:
Não se toma o poder o poder é que lhe possui porque ele se exerce em rede na qual você é apenas uma transmissão dele seja em que parte da malha você está. Você só escapa quando deixa de ser  parte da rede se recusando a exercer relações de poder na família, no trabalho e em todas as relações humanas.

Resumidamente é o que se sugere como estamos vencendo o autoritarismo e as dominações

 1 – A crítica fundamentada contra todas as formas de relações de poder que formando opiniões termina por ter a maioria lhe apoiando. Mudando mentalidades por formadores de opinião anarquistas. Apoiar a todos que lutam, pacificamente e de acordo com as leis vigentes, para se libertar todos de relações de poder. O anarquismo denuncia o dominador que é a causa de todas as misérias sociais, econômicas e políticas. Seu foco de análise é a relação do dominador com o dominado e como sair dessas micros e macros relações de poder, ou seja, relações de dominação.
  2 – Experimentar e criar relações humanas sem o exercício do poder em todas as instâncias. Com esses dois instrumentos políticos você estará mudando e eliminando o fascismo de todos os tipos. O número de pessoas anarquistas praticando o anarquismo, sem dizer o nome, é muito grande. O anarquismo vitorioso conseguiu, ao divulgar essa maneira de viver e de mudar o mundo, gerar movimentos e lutas sociais que têm tirado da sujeição milhões de pessoas em vários países no aqui e agora sem utopia nem profecia .

3 - Estudar as sociedades autoritárias e descobrir e aproveitar, legalmente, suas brechas para, no aqui e agora, beneficiar as pessoas anarquistas vencedoras que praticam relações humanas sem exercício de poder.

O Anarquismo Essencialista

Introdução
O anarquismo aqui chamado de anarquismo essencialista é o que segue os ensinamentos dos teóricos e criadores do anarquismo que, com suas práticas, têm cada vez mais, livrado da miséria e sujeição  milhões de pessoas na atualidade. Portanto sem se afastar da essência do anarquismo. E, ateneuista, substituindo os partidos políticos por os seus ateneus.  Quando estou dizendo que o anarquismo essencialista e ateneuista tem libertado da sujeição e da miséria milhões de pessoas em todo mundo é porque a seu postulado básico é sua recusa da dominação do homem pelo homem. O anarquismo é isto: recusar a dominação do homem pelo homem em todas as relações humanas. E isto tem conseguido livrar  milhões  de pessoas em todo mundo da infelicidade da sujeição que é a porta aberta para todo tipo de exploração. Portanto horizontalmente substituindo relações de poder por relações humanas sem exercício de poder nas escolas, famílias, gêneros, trabalho, eliminando todo tipo de censuras de acesso as informações, artes etc.  
Quer dizer: foi a partir se organizar de forma autogestionária, horizontal e com imenso respeito pela liberdade de que se está, de fato, mudando o mundo e não substituindo elites que fazem o mesmo das anteriores. 
Os anarquistas sempre se organizaram em ateneus libertários e disseminaram, nas sociedades em que viviam, seus pontos de vista. A origem da palavra ateneu que me pareceu mais exata foi: "Em Atenas, na Grécia Antiga, lugar público dedicado à deusa Palas Atena , onde os poetas e literatos vinhem ler suas obras". Por isso os anarquistas criaram ateneus libertários de estudos e pesquisas e  suas práticas políticas é a disseminando de seus pontos de vista visando mudar, pacificamente, opiniões para mudar mentalidades autoritárias e dominadoras em vários tipos de relações de poder. Portanto eles sempre foram essencialistas e ateneuistas. A sua organização e proposta são diferentes das dos outros. Suas ações também. E a história está cada vez mais mostrando que para se libertar de fato só o anarquismo essencialista e ateneuista pode fazer porque tem provado atualmente com suas práticas mudado o mundo de forma justa, igualitária e libertária para todos.
Portanto aqui se pratica o anarquismo essencialista e ateneuista e não partidos e outras organizações verticais com seus presidentes que, se conseguirem tomar o poder, como história tem mostrado sempre e monotonamente, serão os futuros privilegiados e ditadores.

Características
Uma das principais características da prática do anarquismo essencialista e ateneuista é se organizar em ateneus libertários. Neles se efetua as pesquisas de relações humanas sem o exercício do poder. São os maiores centros de pesquisas políticas, psicológicas e sociais que existe. Suas teorias e pesquisas passam a ser praticadas nas sociedades de quase todo mundo como ocorreu com o feminismo, a eliminação da palmatória nas escolas, o fim do Pater Familiae, do racismo, o amor livre com o divórcio, as rendas das pessoas serem semelhantes, o que alguns países atualmente já estão tentando fazer. Aos que têm pouca memória, uma espécie de Alzheimer político, cabe lembrar que os primeiros a sugerir essas mudanças, e foram muito combatidos por isto, foram os anarquistas. Não foram religiosos, políticos de vários partidos etc. Muito pelo contrário se uniram sempre contra.  Todos eles ou calavam sobre essas reivindicações ou as perseguiam. Os profissionais do poder, que se convencionou se chamar de políticos, foram inicialmente contra ou emudecidos sobre a liberdade das mulheres, a luta contra o racismo, o amor livre para todos. Mesmo os marxistas que achavam que só as lutas de classes importava e não importava o maridão dar porrada na mulher, negros não existem o que existem são classes sociais. Essas foram as viseiras deles que Foucault muito bem mostrou que Marx ficou aprisionado,  como um peixe em um aquário do século XIX, quando se deslumbrou com a economia política criada por Adam Smith e David Ricardo. 
O ateneu libertário não é nem partido nem sindicado é essencialmente uma organização cultural que visa formar opiniões libertárias para mudar mentalidades e assim mudar pacificamente no mundo o que nos indigna. Assim sendo um ateneu liberário deve visar esses objetivos:
1 – Mudar o mundo sem tomar o poder
Esse postulado de não tomar o poder é porque o poder, seja qual for e onde seja executado, tem suas próprias regras e maneira de ser que, em vez da ilusão de se tomar o poder,  é ele que nos toma e nos faz dele o seu servo. A história tem provado isto em todas as relações humanas, países, governos etc. 
2 – Visa disseminar os principais pontos de vista anarquistas 
A teoria anarquista é como uma espécie de estrato teórico semelhante ao de uma essência de um perfume que se espalha pela sociedade e assim muda o que é autoritário e ditatorial pela compreensão e consenso da maioria no exercício de relações humanas sem o exercício do poder. Ele muda, transformando desde as micros relações de poder específicas, família, escolas, amor etc, em relações humanas gerais em uma soma de cada uma delas específicas em relações humanas sem o exercício d de poder. Assim age porque é a soma dessas micros relações de poder que sustentam o Estado e os governos. Por isso a contribuição de Foucault sobre os seu conceito de as relações de poder foi, para o anarquismo, de muita importância assim como também  pensadores como Pierre Clastres e Jacques Monod.
3 – As vitórias do anarquismo essencialista e ateneuista
Esse tipo de anarquismo pode ser chamado também de anarquismo vitorioso porque tem atualmente salvado milhões de pessoas em lutas específicas sem partidos e sem organizações autoritárias da sujeição e exploração. Essas lutas específicas, que são de fato sociais e não falsas lutas sociais visando criar novas elites ditatoriais, foram as que criaram o feminismo, as lutas anti-racismo, eliminação de todo tipo de censuras, libertação dos prazeres sexuais para todos implantando o amor livre sempre postulado pela maior parte dos anarquistas, eliminando a miséria de todos por igualdade de rendas e salários. Essas lutas específicas associadas têm levado os partidos, igrejas e focos de dominação a reboque. Essas lutas libertárias  têm sido as únicas vitoriosas atualmente em muitos países. São as únicas que têm mudado o mundo no aqui e agora e os partidos atualmente vão a reboque imersos na descrença de todos diante das história dos partidos que os estão sepultando. A força, como sempre foi, para mudar as injustiças são as pessoas e não intermediários. Cabe aos anarquismo mostrarem a injustiça e a solução e todos terminam por compreender e aí nada o impede de transformar a sujeição em liberdade. 
4 – A estratégia e pratica libertária do anarquismo essencialista e ateneuista é a transformação do poder
Ele não visa tomar o poder, mas o transformar, de baixo para cima com a eliminação, em toda a sociedade, as microfísicas do poder que sustentam o Estado e o governo. E então transformando o Estado, o governo e o poder em uma democracia  libertária plena. Quer dizer elas estão gradativamente, em alguns países, transformando o Estado e o governo, em instituições que eliminaram todas as repressões e deram igualdade de rendas a todos e sua função é administrar e garantir a liberdade e igualdade de todos.
5 – Mudando o mundo no aqui e agora sem utopias nem profecias
Isto não é uma utopia já estamos vivenciando em alguns países que estão cada vez mais  sendo libertários. Não são ainda totalmente anarquistas mas caminham em direção a sociedades o mais libertárias possíveis. Portanto a vitória revolucionária e política,  do anarquismo essencialista e ateneuista foi porque, pacientemente, disseminaram sua maneira de pensar e viver em todo o mundo. Quer dizer: mudando opiniões para mudar mentalidades e, assim sendo, repito, transformando o poder em organizador das liberdades e igualdades de todos sem privilegiados e novas elites. Essa transformação o que conhece como poder hoje é substituído por uma administração libertária extremamente organizada e eficiente. 
6 – Resumo das ações e práticas do anarquismo essencialista e ateneuista:
1 - Criar ateneus libertários.
2 – Divulgar as teorias anarquistas essencialistas e ateneuista. Praticá-las, aqui e agora, nos seus ateneus, criando cooperativas, escolas, atividade artísticas e muitas outras sem relações de poder. O foco sempre é criar organizações horizontais, sem chefes e partidos, gerando autonomias associadas para todos.
3 - Efetuar críticas sistemáticas e constantes, em todas as relações humanas que exerçam o autoritarismo e a dominação do homem pelo homem. Essas críticas fundamentadas em pesquisas rigorosas é que têm feito mudado a repressão e sujeição de milhões de pessoas, no aqui e agora, sem utopia nem profecias. A meta é formar opiniões, divulgá-las e mudar, na maioria, mentalidades autoritárias para mentalidades libertárias no consenso devido a força da argumentação e de suas práticas. Essa sempre foi a ação principal do anarquismo que hoje enfatizamos e descrevemos com o que chamamos de anarquismo essencialista e ateneuista.
4 – Seu foco é o poder e não a economia ou outros equívocos epistemológicos para analisar as mudanças sociais e políticas.
5 – Criar, organizar e participar de todas as lutas específicas associadas. Mas sem partidos e líderes que no futuro formarão elites milionárias e autoritárias. E a história tem mostrado que em todas as épocas e em todos os continentes nas mais diferentes culturas e desenvolvimentos econômicos uma elite substituindo outra e estabelecendo ditaduras e as mesmas explorações que se diziam ser contras.  
6 – Organizar respeitando a pluralidade e evitar unicidade.
7 - Avaliar a eficiência de uma teoria na prática e eliminar a que for ineficiente.
8 – Ter, como um termômetro político, a avaliação da qualidade de vida das pessoas quer em um país ou qualquer tipo de associação o que inclui também a vida das pessoas nos ateneus libertários e a sua própria existência individual.
Conclusão:
O anarquismo essencialista e ateneuista tem sido vitorioso porque tem sido eficiente em livrar, no aqui e agora, com vários nomes em organizações, sem exercícios do poder, milhões de pessoas da dominação e da miséria.




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sábado, 18 de fevereiro de 2017

               O Porquê das Vitórias do Anarquismo Contemporâneo

            Ricardo Líper

            A principal dúvida que levava muitas pessoas a ficarem apreensivas com o anarquismo era a eliminação do Estado e do governo. Muitos preferiam a sujeição à desordem e o caos que imaginavam ocorrer se as ditaduras fossem eliminadas. Tinham medo de que os mais fortes iriam matar os mais fracos e viverem todos lutando entre si. Viviam sobre a sombra do contrato social de Rousseau.  Por isso muitos ainda se referem às ditaduras militares, ao fascismo ou mesmo ao nazismo como sinônimo de ordem e culpam, até se um trem atrasar, a democracia. Nesse sentido você pode avaliar seu grau de nazismo quando, equivocado, pensa que ordem é sinônimo de nazismo e que liberdade é desordem. Essas pessoas sofrem de anarcofobia ou mesmo liberfobia
            Entretanto a história revolveu este problema e agora está deixando claro o que significava quando os anarquistas diziam ser fundamental uma sociedade sem Estado. Cabe se perguntar o que se entendia, quando surgiu o anarquismo, como Estado e governo.
            O que ocorreu é que os anarquistas perceberam que só a liberdade é o método para organizar uma civilização e não a violência de uma ditadura seja com que nome se apresente. É, a partir da liberdade, que se deve organizar qualquer tipo de relações humanas senão elas fracassam e, sob muitos pretextos, exercem dominações que são relações de poder. Por isto os anarquistas propuseram então uma democracia verdadeira e plena e não uma falsa democracia. Daí suas micro experiências, mesmo em sociedades autoritárias, de relações humanas sem relações de poder e em sua ação política já elimina relações de poder entre seus militantes e nas formas de lutas pela liberdade de todos.
            Os anarquistas chegaram a essa conclusão porque o seu foco de pesquisa foi o poder e a liberdade. Escaparam do equívoco epistemológico de, em vez de analisar o poder e a liberdade, analisar o poder como resultado de outra coisa que não fosse nem o poder nem a liberdade. Foi um equívoco porque, na pesquisa do objeto de pesquisa que é o poder foi substituído pela economia, religiões, filosofias, mas não a análise e objeto de pesquisa ser o próprio poder. O poder passou a ser o resultado de premissas que justificavam e explicavam sua existência e, portanto, a dominação do homem pelo homem. Foi nesse equivoco epistemológico que na prática todas as revoluções se transformaram em anti-revoluções substituindo elites por elites ditadoras e possuidoras de todos os bens do país sejam com que nomes se dominaram. Tanto religiosos, marxistas, socialistas de todos os tipos, na suas práticas, nos mais variados paises e épocas, o que é diagnosticado são: ditaduras, censuras e diferenças muito grande de rendas levando grande parte a pobreza ou miséria com todas as consequências: prisões, execuções, assassinatos, assaltos etc. Esses dois sintomas: diferenças de rendas e salários e dominação através de censuras de comportamentos de todos é que diagnosticam uma sociedade autoritária com uma elite exploradora e dominadora.  
            Entretanto a história tem mostrado que os anarquistas tinham razão e resolveu a questão de propor organizar a sociedade em democracias plenas e libertárias. A solução contemporânea comprovada pelos fatos é o governo e o Estado se transformarem em administradores da liberdade. E isto está ocorrendo com muitos países que já desenvolveram democracias mais libertárias com uma qualidade de vida melhor do que em todos os países que optaram por ditaduras ou falsas democracias. Agora podemos entender o nem Deus nem o Estado dos anarquistas. Na realidade surgiram outros deuses e, se quiseram, outros Estados porque, se o Estado é democrático de fato, deixa de ser o que os anarquistas sempre chamaram de Estado como  sinônimos de dominação. Isto é, uma ditadura fingindo, ser democracia. Sendo uma organização libertária de uma sociedade o nome se é Estado ou não pouco importa. O que importa é ele ter como principal função garantir a liberdade de todos.
             As provas, da eficiência dos métodos e objetivos libertários dessa construção de uma democracia verdadeira e plena, que é o anarquismo, estão diagnosticados abaixo:

            Até bem pouco tempo muitos pensavam que:
            Não poderia existir, porque se dizia ser um caos e a desordem, uma sociedade sem reis.
            Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, famílias sem o pai sendo o chefe humilhando, espancando e às vezes matando mulheres e filhos.
           Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, escolas sem a palmatória e alunos sem castigos físicos e torturas psicológicas.
            Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, uma mulher ser médica, engenheira, militar, policial ou qualquer outra profissão a não ser dona de casa ou de prendas domésticas.
            Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, a separação, depois do casamento, a não ser pela morte de um dos cônjuges.
            Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, homens casarem com homens e mulheres casarem com mulheres.
            Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, aceitar que brancos, negros, amarelos, vermelhos ou que cor da pele tivessem fossem iguais e com os mesmos direitos.
          Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, que todos, independente da idade, pudessem ler, ver e dizer o que quisessem e seguir as crenças e filosofias que achassem melhor.
            Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem, que as pessoas se pintassem, tatuassem, se vestissem e penteassem como quisessem. Eram proibidas de serem donas de seus próprios corpos. Os seus corpos eram vampirizados pelos seus dominadores através das heterodisciplinas e do biopoder. O que os anarquistas e Foucault sempre postularam não foi a indisciplina mas a autodisciplina na qual o sujeito sujeitado supera a sujeição e enfrenta o poder como o mestre de si mesmo. Para além da educação vertical ser autônomo. Praticar a autonomia que é sempre criada por ele mesmo. Tudo que ele faz o mais importante é a prática do auto, quer dizer vindo dele mesmo. Autodisciplina, autodidata, autogestão de si mesmo.  
            Não poderia existir, porque diziam ser um caos e a desordem e, portanto, uma utopia, que os salários ou as rendas fossem semelhantes para todos.
            Teria de existirem sempre pobres e ricos, chefes e chefiados e a maioria dos seres humanos estaria condenada a ser sempre infeliz.

            Entretanto:
           
             1 - Atualmente existem leis, nos países mais desenvolvidos politicamente, que garantem que todos não podem, sob que pretexto for, ser discriminados, excluídos, humilhados, intimidados, emudecidos, espancados e assassinados. Por mais diversos que sejam todos são tratados como iguais. Diferentes mas iguais.
            2 - Que os salários ou rendas não sejam muito diferentes.
            3 - Abolir o desemprego ou, se existirem desempregados, serem mantidos dignamente pela sociedade, até conseguirem trabalhar.
            Estes sempre foram os objetivos e o programa político dos anarquistas. Estão, sendo praticados, sem dizer o nome anarquismo, nos países que têm hoje a melhor qualidade de vida para todos.
           
            A Prática Política
            O que estamos vendo atualmente são as conquistas de lutas específicas associadas: feminismo, eliminação do racismo, de todo tipo de censura, a prática do amor livre e a eliminação da miséria. Essas lutas têm conseguido garantir por leis vitórias vindo de baixo para cima e assim mudar o mundo sem tomar o poder. Ou seja, quase sempre pacificamente, pelo consenso da maioria, resultado da formação de opiniões que foram pacientemente disseminadas pelos anarquistas, para mudando mentalidades libertar milhões de pessoas da sujeição e da miséria física e moral.
            Portanto sem tomar o poder, mas transformá-lo, com as alterações de leis que proíbem para leis libertárias que garantem relações humanas sem exercício de poder. Quer dizer o poder existe só para os que quiserem exercer o poder sobre os outros. Toda desordem, crimes e violência são provocados por aqueles que querem exercer o poder sobre os outros. O anarquismo é a ética política porque respeita absolutamente a liberdade do outro  uma vez que toda e única imoralidade é não respeitar a liberdade e igualdade de todos. Sem o anarquismo não há ética. Essa é, atualmente, a vitória do anarquismo. 

            Conclusão:
            Lembrem-se que o sucesso do anarquismo e o fracasso de outras tentativas de mudar as relações de poder nas sociedades foram porque:
           1 - O anarquismo teve como seu objeto de pesquisa o poder e não a economia, religiões, filosofias ou qualquer resultado de outro objeto de pesquisa que não fosse o poder.  A sua diferença com as outras teorias políticas portanto foi epistemológica.
            2 – Incentivaram e participaram de lutas específicas associadas sem partidos ou chefes porque perceberam que tendo chefes e líderes com seus discursos sempre se tornaram novos dominadores e privilegiados ditadores quando tomaram e exercitaram o poder.
            3 - Por isto a ação anarquista sempre foi, quase sempre pacificamente, mudar o mundo sem tomar o poder. De baixo para cima e não de cima para baixo. Como se está fazendo até agora: mudando gradativa e especificamente dominações e explorações por igualdade e liberdade. E, como método de ação, mostrar sempre os absurdos da sujeição desde as microfísicas do poder para transformá-las em relações humanas sem exercício do poder. Portanto formando opiniões para mudar mentalidades e ações autoritárias. E, portanto, com o consenso da maioria, como estamos vendo no mundo quase todo, na maioria das vezes pacificamente, livrarem da submissão e de todos os tipos de misérias, milhões de pessoas em vários lugares no mundo. Os anarquistas têm, como prática política, as vezes pequenos e livres grupos de disseminação de opiniões. Isto é, no aqui e agora, sem profecias nem utopias. Esta é a vitória do anarquismo. Este é o anarquismo contemporâneo. Esses são os sucessos do anarquismo.
           

4 - Os anarquistas agem principalmente com suas análises críticas a todo tipo de dominação sugerindo e praticando alternativas libertárias. Fazem isso porque sabem que os partidos ou outras formas de lutas autoritárias são resultados de estratégias de poder criados por dominadores para melhor gerir a dominação em proveito próprio. São lutas de dominadores pelo poder. E os que pensam diferente são engolidos pelo poder. Esses partidos podem se mostrar, em alguns momentos multidões teatrais e fazer assim crer que são muito poderoso e com multidões indo atrás. Não é bem assim que é a realidade. A multidão que os segue são atores amadores que na realidade são muitas vezes pagos para as formarem, atraem também muitos oportunistas  querendo ganhar muito sem trabalhar, fracassados e os inocentes úteis que, devido a falta de perspicácia, não percebem que estão sendo massa de manobra seguindo novos ditadores. Quantos desses partidos já vimos desaparecer de uma hora para outra? Morrem muito mais partidos do que os que existem. E só os que têm vida longa é porque se entronaram no poder e chegará o dia do seu final. Os anarquistas estão, algumas vezes sem dizer o nome,  mudando o mundo sem tomar o poder e livrando  milhões de pessoas, em muitos países, da dominação e da miséria. Estas são as vitórias do Anarquismo Contemporâneo.